sexta-feira, agosto 10, 2007

Pequeno comentário a um texto de Engels - Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem

Tenho aprendido a usar e enxergar o materialismo como uma ferramenta essencial na leitura e compreensão da História. Marx e Engels produziram obras perenes, imortais.Verdadeiros monumentos para compreender como se desenvolvem as relações histórico-sociais. O ensaio inacabado Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem é uma exposição eloqüente sobre o papel trabalho como uma ferramenta criadora do homem. As palavras do filósofo: “... até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem”.

Não foram os ideais que constituíram os homens ou a consciência como mais tarde trabalharam Marx e Engels em A Ideologia Alemã. Foi o trabalho que possibilitou a organização das sociedades, dos sistemas econômicos, das crenças, da linguagem, da cultura. Não é a consciência que transforma o trabalho, mas é o trabalho que transforma a consciência. Ou seja, foi a ação transformadora do trabalho que modificou a natureza. As várias necessidades forjaram ou imprimiram no homem um direcionamento. O homem não agiu por si só, todavia, agiu impulsionado pelos processos adversos que a natureza lhe apresentava. Não foram as idéias que transformaram o mundo. Foi a natureza que imprimiu no homem um modus de agir, que diferencia o homem de qualquer outro animal. A ação da natureza sobre o homem permitiu uma mudança metabólica no organismo humano. O cérebro do homem mudou substancialmente após esse sinergismo. Até mesmo a forma de lhe dar com o alimento mudou.

Quando houve uma sedentarização do homem por conta dos crescimentos comunais, passou a haver a necessidade de domestificação de animais. Os homens deixaram de ser vegetarianos básicos e passaram a ser herbívoros. Como afirma Engels: “Graças à cooperação da mão, dos órgãos da linguagem e do cérebro, não só em cada indivíduo, mas também na sociedade, os homens foram aprendendo a desenvolver ações cada vez mais complexas, a propor-se e alcançar objetivos cada vez mais elevados. O trabalho mesmo se diversificava e aperfeiçoava de geração em geração, estendendo-se cada vez a novas atividades”.

No caso especifico, Engels afirma que o que levou à transformação do macaco em homem foi justamente as novas condições sócio-históricas. Pelo que se parece, há um tipo de argumentação hipotética advinda da biologia de Darwin que Engels utiliza para exemplificar a existência histórica de uma espécie de primata primevo que teve que utilizar a mão para executar as suas ações – caçar, utilizar instrumentos, etc. Após esta ação, necessariamente, o homem criou a linguagem como um mediador simbólico. Ou seja, com isso verificamos que a tese de Engels rechaça os idealismos religiosos que definem o desenvolvimento do homem aprioristicamente. O homem não surgiu pronto - ex nihilo. A espécie humana não surgiu como um ente acabado. Muito contrariamente, há logicamente no pensamento de Engels, como um bom materialista histórico, a afirmação de que o homem em contato com a natureza vai se transformando, ao mesmo tempo em que a transforma. Esse dialogismo permite uma interação eficaz do homem sobre a natureza.

O crescimento ou alastramento das sociedades definiu um modo de produção baseado na desigualdade. Obrigatoriamente, criaram-se duas classes distintas: a classe dos que possuem a propriedade, porque necessariamente se apossaram dos meios de produção e a classe oprimida, que não possui os meios de produção.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque

Nenhum comentário: