segunda-feira, março 21, 2011

À chegada do outono

O outono teve início e com ele surgiu o meu entusiasmo. É a estação que mais admiro. Outono é uma ode à caducidade da vida. Vejo o outono como uma celebração à quietude. Com o outono tudo se amansa, envelhece, pende para baixo. O despojamento que vemos por toda parte; o frio que encolhe; a sensação de que o céu cinza é uma cortina que nos sensibiliza. Abaixo segue um fragmento de uma reflexão feita por Rubem Alves, alguém para qual o outono é uma poesia.

"Eu conheci um homem assim: Wayne Glick. Estivemos juntos por poucas semanas Mas aquele foi um tempo eterno.

Tempo eterno é o tempo que volta sempre.

Era outono no estado de Maine, nos Estados Unidos. O Maine fica bem ao norte, de um lado é o Canadá, do outro é o mar.
O outono, é quando a natureza está se despedindo, preparando-se para o longo sono do inverno.
No verão as folhas dos bosques são verdes. No outono, as folhas verdes, tocadas pelas primeiras geadas,mudam de cor.Os verdes rareiam. Algumas árvores se incendeiam, vermelhas. Outras ficam de um amarelo vivo, brilhante.
Uma brisa fria começa a soprar arrepiando a pele.
Caem as folhas cobrindo o chão.
É a ocasião da colheita das maçãs
As cores das árvores, o céu azul, o cheiro das maçãs maduras e das folhas já em decomposição: há uma tristeza bonita no ar.
O outono é triste.Acho que é porque ele é uma metáfora da vida. A despedida deveria ser assim: uma orgia de beleza.
Mas antes que o outono comece nas coisas ele começa em nós. Foi Bernardo Soares quem disse."

Rubem Alves
Correio Popular
16/10/05

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