sábado, maio 05, 2012

Letras esparsas sobre Monsieur Pain de Roberto Bolaño

Roberto Bolaño é a sensação literária do momento. Todos aqueles que se intitulam bons leitores ou curiosos vorazes da literatura já o leram, estão lendo ou fazem projetos para lê-lo; ou também aqueles leitores diletantes e curiosos (meu caso), que tendo uma dívida enorme com o conhecimento da literatura, vão se apropriando tardiamente das novidades do universos mágico do texto literário. Não é para menos. Bolaño é viciante. Diga-se de passagem que ele resgata o lado selvagem da literatura. O lado underground de uma boa narrativa. O chileno consegue fazer um belo coquetel com o estilo borgeano e com Poe, com aquele tipo de texto eivado de mágica onírica e habilidade lancinante para descrever episódios.

Em Monsieur Pain, primeiro livro a que tenho acesso do escritor de 2666 (Raquel de Queiroz o chamaria de cartapácio) e Detetives Selvagens, reparei na beleza dos diálogos. Bolaño parece subverter aquela imagem de Paris como a "cidade das luzes", a cidade da arte; a sempre bela Paris, arrebatadora de gestos apaixonados. O livro escritor por Bolaño como um ensaio literário ainda no início da década de 80, possui uma atmosfera noturna, com becos asfixiantes, uma trama policialesca digna dos grandes escritores ingleses. Pain, o personagem principal da obra, é vítima de uma conspiração e acaba oscilando entre pensamentos filósoficos e terrores aziagos.

A Paris de Pain é aquela do final da década de 30. É Paris de chuvas intermitentes, de noctívagos contumazes. A narrativa nos apresenta ruas estranhas, perseguições, personagens enigmáticos, caminhos tortuososos e bares incidentais onde os personagens se enveredam por conversas habitadas por mistérios, sendo que logo em seguida após o sono da personagem Pain, segue-se o despertamento sempre permeado por uma atmosfera de suspeita de sonho. O clima de perseguição psicológica me faz lembrar de Kafka em O Processo.

Em suma: Bolaño constrói uma narrativa visceral, como na descrição da cena de um galpão abandonado, uma das melhores passagens do livro. A descrição apurada oscila entre o real e o inversossímil. Simplesmente fantástico. Faz suspender a respiração. As pitadas velozes da descrição, mete-nos a impressão de que estamos ali com a personagem.

No dia em que comprei Monsieur Pain na Livraria Cultura, também adquiri Chamadas Telefônicas. Minha intenção era comprar Detetives Selvagens. O vendedor disse-me que na loja não havia nenhum exemplar.  Mas não faz mal. Não foi de todo ruim. Próximas aquisições de livros do mestre chileno: 2666, Putas Assassinas e Detetives Selvagens


Indico ainda como suplemento para que se conheça um pouco mais sobre Monsieur Pain, o comentário escrito por Charlles Campos, sujeito que conhece literatura de maneira profunda. Cada texto que leio do Charlles percebo o quanto preciso me apronfundar nesse universo mágico, no qual Bolaño é um mestre incontestável. Outro leitor voraz de Roberto Bolaño é Cassionei Petry.


6 comentários:

charlles campos disse...

Concordamos em tudo neste seu texto, menos na parte referente a este hipotético Charlles Campos.

Forte abraço.

charlles campos disse...

Ah! 2666 supera tudo que Bolaño escreveu. É um desses livros que causam tanto impacto que mal nos recuperamos dele após finda a leitura.

Carlinus disse...

Percebo a sua modéstia, Charlles!

Outro dia fui a Goiânia e dei uma flertada em 2666, lá na Livraria Saraiva. Não pude comprá-lo. Moro num apartamento pequeno e minha mulher sempre olha com indisposição os livros que compro. Mas estou bem próximo de comprá-lo. Qualquer dia terei um surto de clandestinidade.

Obrigado pelo comentário.

Abraços!

Cassionei Petry disse...

Obrigado pela menção. Amanhã, inclusive, escrevo sobre Chamadas telefônicas na minha coluna do jornal e no blog.

Carlinus disse...

De nada, Cassionei. Você é um grande leitor e merece menção em qualquer citação.

A propósito: li o texto sobre Chamadas Telefônicas. Como sempre, muito bem escrito. É um dos meus próximos livros a serem lidos. O conentário já me deu uma base para enfrentar a leitura bolañiana.

Abraços!

Cassionei Petry disse...

Obrigado. Abraço. Tu também és um grande leitor.