quarta-feira, maio 09, 2012

Breve comentário a uma leitura inicial de A Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire

Quando Paulo Freire escreveu os seus primeiros trabalhos, o contexto mundial era de Guerra Fria. O mundo estava dividido entre americanos e soviéticos. Mesmo com essa divisão, criou-se a ideia de Primeiro Mundo e Terceiro Mundo. O Primeiro Mundo pertencia àquelas nações ricas, desenvolvidas. O Segundo Mundo pertencia aos países socialistas, que não faziam parte do Primeiro Mundo, mas também não poderiam ser classificados como de Terceiro Mundo. E, por fim, do Terceiro Mundo fazia parte aqueles países probres, nos quais as desigualdades sociais e econômicas eram alarmantes. 

A reflexão de Freire tem por finalidade refletir sobre a massa de opressos que vivia à margem nesse chamado Terceiro Mundo. Que eram explorados e consentiam com isso. Por conta disso, ele chamou um dos seus livros (que estou lendo nesse momento) de A Pedagogia do Oprimido. Seu discurso era direcionado aos oprimidos - embora também ao opressor. Analisando o seu texto (docemente poético e ao mesmo tempo visceral porquê trágico), nota-se o quanto permanece atual a reflexão feita no final da década de 60, enquanto estava exilado no Chile. Paulo Freire sempre buscou, dialeticamente, entender a condição do marginalizado, daqueles que nada são e que foram "proibidos de ser".

Gostaria apenas de citar um trecho de A Pedagogia do Orpimido: "Há, por outro lado, em certo momento da experiência existencial dos oprimidos, uma irresistível atração pelo opressor. Pelos seus padrões de vida. Participar destes padrões constitui uma incontida aspiração. na sua alienação querem, a todo custo, parecer com o opressor. Imitá-lo. Seguí-lo. Isto se verifica, sobretudo, nos oprimidos de "classe média", cujo anseio é serem iguais ao "homem ilustre" da chamada classe "superior"".

Notável síntese. Freire fala de uma violência trans-histórica de sedimentação de uma lei, pois "esta violência, como um processo, passa de geração a geração de opressores, que se vão fazendo legatários dela e formando-se no seu clima geral. Este clima cria nos opressores uma consicência fortemente possessiva. Possessiva do mundo e dos homens. Fora da pessoa direta, concreta, material, do mundo e dos homens, os opressores não se podem entender a si mesmos. [...] Daí que tendam a transformar tudo o que os cerca em objetos de seu domínio. A terra, os bens, a produção, a criação dos homens, os homens mesmos, o tempo em que estão os homens, tudo se reduz a objeto de seu comando. Nesta ânsia irrefreada de posse, desenvolvem em si a convicção de que lhes é possível transformar tudo a seu poder compra. Daí a sua concepção estritamente materialista da existência. O dinheiro é a medida de todas as coisas. E o lucro, seu objetivo principal".
Sigamos com a leitura do texto freiriano!

Abaixo, dois vídeos que trazem uma entrevista concedida por Freire em 1997, ano de sua morte.

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