terça-feira, dezembro 18, 2012

Baixio das Bestas e sua tese artificial


Ousei assistir ao filme Baixio das Bestas (2006), de Cláudio de Assis. O interesse pelo filme de Assis era um projeto antigo. Quando o filme estreou em 2006, li uma crônica positiva sobre o filme. Reservei um interesse pela obra. No mês de julho deste ano, assisti a outro filme de Cláudio Assis, de 2002, Amarelo Manga.

Mas tenho a dizer que esta segunda obra não me impressionou tanto quanto a primeira. Baixio das bestas me deixou com uma impressão decepcionante. Como em Amarelo Manga, Baixio traz uma tese de ruína social. Se naquele Assis retratou a vida citadina dos recifenses do subúrbio, neste o cinesta voltou os seus olhos para o campo - a Zona da Mata pernambucana. O espaço da obra é o espaço da decadência, do embargo do tempo. 

As cenas iniciais nos coloca um narrador que verbaliza sobre o poder de morte do tempo. Essa entidade matou os "engenhos", matou as "usinas", matará "a mim" e matará "a você". Talvez nessa afirmação resida o fato de que o tempo é o propugnador inveterado da condição de penúria e alienação do ser humano; que a passagem do tempo não trará mudanças, que a condição de miséria se retroalimenta. E de certa forma, o que percebemos no filme é a clausura; a ausência de saídas; o enredo da obra é apriosionante. A história tem início, mas o final não nos dá notícia dos personagens. De forma abrupta, o fluxo da história é interrompido.

Ao invés de levar o espectador à história, fazendo-o refletir, Assis opta por trazer a história. Impô-la. Torná-la chocante. A estratégia utilizada é o corpo nu, a masturbação, o estupro de prostitutas, a orgia, a moral decadente, a hiprocria, o cafetismo e a exploração sexual imposta por um avô à neta, a prisão domiciliar, a vida infame de agroboys que se utilizam da condição de 'civilizados' para ultrajar a vida do homem do campo.

Numa da cenas iniciais, talvez querendo estabelecer uma conexão com aquilo que mais tarde é trabalhado, numa espécie de spoiler, o avô da garota supra mencionado, leva a neta para se despir paras caminhoneirso e outros sujeitos da terra. Num jogo cinematográfico, a jovem se apequena com o distaciamento da câmera, enquanto os homens são mostrados em simulações de masturbação, num gesto desvairado e animal, e logo em seguida é mostrada a cruz de uma igreja velha. Ou seja, de um lado a ignomínia, a vilania, a baixeza de bestas, do outro lado, a moralidade sagrada da religião. Aquela se soprepõe a esta. 

O acerto claro em Amarelo Manga, faltou em Baixio das bestas. O Brasil é um país assentado na desigualdade, de fato. Um país que possui uma quantidade significativa de pessoas que vive uma realidade infame de miséria e alienação. Homens e mulheres que são violentados pelo descaso e que vivem em "baixios" rurais e urbanos; que não experimentam a dignidade; que experimentam a não dinamicidade das mudanças sociais e que, por causa disso, são vítimas da violência e de uma olhar pequeno sobre o mundo. 

Todavia, a intencionalidade da obra asfixia o espectador e não deixa a possibilidade de credulidade. O homem para Assis, tornou-se em bicho medonho, ávido por misérias e putrefação. Se Assis tivesse apostado na denúncia, criando processos de reflexão como fez em Amarelo Manga, a sua tese teria sido aceita com mais facilidade.

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