segunda-feira, janeiro 07, 2013

Uma breve nota considerativa sobre um texto machadiano

Fazia de dez há doze anos que eu não lia Machado de Assis. Fui me afastando dele por motivos não óbvios. Razões racionais e objetivas não havia. Talvez, situações mais urgentes tenham feito que eu preterisse o Bruxo do Cosme Velho. Para o meu prejuízo. Penso que todo amante da literatura deve visitar Machado de Assis pelo menos uma vez ao ano. Ou seja, ir ao seu mundo, fazer uma incursão pelo que de melhor há em matéria de literatura, pois a estética machadiana é única. 

O último livro que havia lido dele ("Esaú e Jacó"?) não me é lembrado. O fato é que resolvi visitar duas de suas obras - "Quincas Borbas" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Estes dois livros, juntamente com "Dom Casmurro", "Esaú e Jacó" e "Memorial de Aires" (todos da segunda fase, conhecida como realista) constituem aquilo que de mais excelso já foi produzido pela literatura brasileira - quiçá na história da literatura do Ocidente, corroborando com Harold Bloom. 

Ficar bastante tempo sem lê-lo fez com que eu me acercasse do juízo de que a fama do escritor carioca foi alardeada em excesso. Ou seja, que Machado era um caso de dimensionamento exagerado. Felizmente, eu estava errado. Machado é um cosmos. Estudar a história do Realismo ou o Naturalismo na literatura brasileira, é estudar o Naturalismo, o Realismo e Machado de Assis. Seu texto é mais complexo do que um bloco histórico ou uma escola literária. Machado é um amálgama. Afinal, quanto já não se tratou do aspecto mágico e fantástico de Memórias Póstumas1

O fato é que ler Machado de Assis, após tanto tempo, permitiu que o seu texto se tornasse mais vivo, mais claro, mais denso, mais largo. Uma coisa é ler Machado de Assis aos vinte anos; e ler Machado após os trinta se constitui em algo bem antagônico. A prosa de "Quincas Borba", livro cujo texto Machado demorou aproximadamente cinco anos para escrever, é um tecido bem ajustado. Cada palavra, cada graça, cada ironia, cada apreciação psicológica, cada digressão, cada diálogo é um nota musical de uma sinfonia. Cada personagem - Quincas Borba, Rubião, Cristiano Palha, Sofia; a teoria de humanitas; a célebre frase: "Ao vencedor, as batatas", não está ali por acaso.

Machado possui um controle assustador da sua prosa. Conseguiu uma maturidade, uma habilidade para narrar, que somente um escritor maduro, arguto e experimentado como ele poderia desenvolver. A cada nova página que leio, afirmo para mim mesmo: "Esse sujeito era um cavalo! Vai escrever bem assim na baixa da égua!" É a única forma que encontro para soltar a minha indignação admirada. 

João Pessoa-PB

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