domingo, abril 21, 2013

Sobre o excelente filme romeno "Os Contos da Era de Ouro"

Nicolae Ceausescu governou a Romênia de 1964 a 1989, ano em que foi assassinado, após a Revolução Romena. O povo se mobilizou para depor o governo do Chefe Supremo, como se auto-intitulou Nicolae Ceausescu. 

Nos anos que antecederam esse momento tão marcante da história recente da Romênia (que foi único país o qual o comunismo terminou de forma violenta), o regime de Nicolae Ceausescu foi controverso. Suas medidas levaram o povo a passar fome e privações materiais de toda sorte. Mas mesmo em face disso, Ceausescu intitulou os 15 últimos anos de seu governo como a "Era de Ouro". 

Em 2009, saiu o excelente filme "Os Contos da Era de Ouro", dirigido pelo consagrado Cristian Mungiu (ganhador da Palma de Ouro em Cannes, 2007) e quatro outros diretores - Hanno Höfer, Constantin Popescu, Ioana Uricaru e Razvan Marculescu retratando esse momento. O filme não tem por finalidade "debochar" ou "achincalhar" o regime do Nicolae Ceausescu, mas, no fundo, fica essa impressão. Em seis fantásticas histórias, o telespectador entra em contato com um estudo bem realizado de como os momentos de dificuldade de um povo pode fazer surgir as mais diversas e hilariantes saídas. Busca, de forma bem humorada e irônica, mostrar como um povo é capaz de construir um "jeitinho".

Enquanto assistia ao filme, pensei o quanto a obra também fala do Brasil. Afinal, não existe, no mundo, um país em que a ideia de "jeitinho" seja levada tão a sério quanto no nosso. Pagamos um alto preço por causa disso. Quando ele nasceu? O filme nos passa ideia de que essa "esperteza" é o modo de "respirar" em momentos dificéis. Se isso é verdade, quando foi que começamos a utilizar o jeitinho? Por quê não o deixamos? Estamos ainda em dificuldades? Ou nos acostumamos com a "malandragem"? São perguntas para serem refletidas e discutidas em moutro momento.

No filme, as histórias são muito bem urdidas. Pelo menos em duas ou três eu ri bastante. Uma delas conta a história de um líder Ocidental que vai visitar a Romênia. Na foto oficial, o presidente Ceausescu pareceu menor do que o visitante. A partir desse ponto começa a rocambólica saga de dois fotógrafos para colocar um chapéu na cabeça do venerável líder para ser veiculado pelos jornais do país. Uma montagem é feita. O chapéu é colocado na cabeça de Ceausescu. Todavia, graças a uma desatenção, Ceausescu parece na foto com dois chapéus. Quando perceberam já era tarde demais. Os jornais já haviam sido rodados e enviados a todos os cantos da Romênia. Começa o esforço hilariante dos membros do Partido para recolher os jornais. 

Outra história curiosa é a da visita oficial a um vilarejo afastado. Outra ainda é "A lenda do policial ganancioso". Esta, a última história do filme. Ri bastante com ela. O policial ganha um porco vivo do cunhado e diante da impossbilidade de matá-lo (ele não queria dividir com ninguém os despojos do animal), tenta asfixiar o animal com gás butano. Ri bastante com essa história.

O que fica claro em cada uma das seis histórias é o quanto os regimes totalitários naufragam no rídiculo e nas aparências. E o quanto o povo consegue driblar a burocracia, o aparato repressor do Estado e toda o senso doutrinário que redunda sempre em artificialidade. Apesar de aparecerem como lendas, as histórias me pareceram bem reais.   Muito bom!
 

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