segunda-feira, janeiro 27, 2014

"Vida Querida", de Alice Munro, algumas palavras

Não é minha intenção escrever uma resenha sobre o livro Vida Querida, da canadense Alice Munro, ganhadora do Nobel de Literatura, no ano de 2013. Tampouco, fazer apontamentos no sentido de execrá-la com apupos ou dirigir-lhe encômios exagerados. Aliás, estou ouvindo o minimalismo de Philip Glass (trilha sonora do filme As Horas) e tomando um espumante ordinário - e, talvez, a música e o gosto de maçã azeda se aglutinem com o espírito do livro. 

O livro Vida Querida, editado pela Companhia das Letras, no final do ano passado, talvez, como resultado da pressão mercadológica por um novo material da laureada nobelina, parece que goza de grande prestígio por aqui - ou, pelo menos, curiosidade. Alice Munro nasceu em Ontario e uma época de profunda melancolia econômica. E, atualmente, firmou-se como uma das grandes livreiras de seu país. Já publicou quatorze ou quinze livros. O conto é a sua especialidade. Há quem a chame de "Tchekov canadense", uma referência ao escritor russo, mestre do gênero. 

O fato é que Vida Querida me deixou com uma sabor agridoce na boca. O primeiro conto me pareceu artificial em demasia. Ela criou um cenário. Riscou dois traços. Conduziu esses traços de forma sinuosa. Afastou-os um do outro. E no final, fez com que eles se encontrassem. Um excelente roteiro para uma porcaria hollywoodiana. Talvez aí resida o "esquematismo" apontado pelo Aguinaldo, que afirmou que o livro, comparado a outros da autora "deixa a desejar". Todavia, a partir do segundo conto, peguei gosto pelo livro. As histórias se passam, a maioria, no período da Segunda Grande Guerra e podem ser compreendidas no intervalo que vai de 1940 a 1960. Estão ambientadas no interior do Canadá. É constante a referência a cidadelas; vilarejos; rios cristalinos e matizados pela luz do sol. 

Ela consegue descrever detalhes, minudências, e esboçar a vida psicológica de personagens com bastante habilidade. Seu texto não me pareceu complexo. É simples. Todavia, não é simplista. Sua habilidade em se ater a detalhes da vida, faz com que os seus contos, pelo menos nesse Vida Querida, estejam repletos, de paisagens psicológicas. Isso é positivo. Pois cria surpresas. Prende o leitor. Dar-lhe motivos para entusiasmos com o seu texto.

O livro é dividido em duas partes: encontramos na primeira dez contos, sendo que alguns me pareceram de ótima qualidade. Poderia apontar Trem e Com vista para o lago. Na segunda parte, temos o "Finale" com quatro narrativas ou paisagens da memória da própria autora. Ao meu modo de ver, um dos melhores momentos do livro. Tudo me pareceu imensamente nostálgico. Ela mesma diz na explicação que abre os textos: [...] "Acredito que eles [os textos] sejam as primeiras e as últimas - e as mais íntimas - coisas que eu tenho a dizer sobre a minha vida".

O leitor que talvez não tenho lido outros livros de Alice Munro - meu caso - e tenha tido acesso apenas a esse Vida Querida, pode incorrer em julgamentos sobre a capacidade da escritora. Poderia perguntar: "Será que não há outra autor(a) para ganhar o Nobel?" A obra exagera nos encontros casuais; na memórias dos acontecimentos e nos impele a julgar as obviedades da narrativa. Mas, o livro tem o sabor do "descompromisso", a leveza minimalista de paisagens rurais; o sabor e o cheiro de tempos pretéritos; de eventos que se cristalizaram e se transformaram em matéria para nos fazer lembrar o quanto a vida pode ser boa, querida. Penso que tenha sido isso que Munro quis nos transmitir com o seu livro.

P.S. Epa! Acho que saiu alguma coisa "próxima" de uma resenha.

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