quinta-feira, abril 17, 2014

Uma bela confissão de Eric Hobsbawm

 
Os meses que passei em Berlim me tornaram um comunista para o resto da vida, ou pelo menos me transformaram em alguém cuja vida perderia a natureza e o significado sem o projeto político a que se dedicou quando estudante, ainda que visivelmente esse projeto tenha falido - e, como agora sei, somente poderia falir. O sonho da Revolução de Outubro ainda está em algum lugar dentro de mim, assim como um texto apagado no computador lá permanece, à espera de que o técnicos o recuperem dos discos rígidos. Abandonei-o, ou melhor, rejeitei-o, mas não foi eliminado. Até hoje me vejo tratando a memória e a tradição da União Soviética com uma indulgência e ternura que não sinto em relação à China comunista, porque pertenço à geração para a qual a Revolução representava a esperança do mundo, o que nunca foi verdade quanto à China. A foice e o martelo da União Soviética eram seu símbolo. Mas o que poderia ter transformado aquele menino de escola de Berlim em comunista?

Hobsbawm.Eric, Tempos Interessantes. Companhia das Letras, São Paulo, 2002. p. 73

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