quinta-feira, maio 03, 2012

Na natureza selvagem - uma viagem em busca de liberdade

Na natureza mais selvagem não há apenas o material da mais cultivada das vidas e uma espécie de antecipação do resultado final, mas também um refinamento maior do que o homem jamais conseguiu alcançar".
 Henry David Thoreau

Em 2007, o ator e diretor Sean Penn, escreveu o roteiro e dirigiu o filme Na natureza selvagem, baseado no livro homônimo de John Krakauer, que conta história real de Christopher McCandless que se autodenominou de Alxander Supertramp. Assisti a esse longa-metragem na noite de segunda-feira. Mais de duas horas e meia de uma trilha sonora belíssima, escrita por Eddie Vedder, vocalista da banda Pearl Jam, e de cenas de tirar fôlego. Na natureza selvagem já era um projeto antigo. As pessoas que me haviam indicado o filme o fizeram mais pelo lado estético. Não chegaram a reportar o lado filósofico.

A obra nos lança um debate sobre relação entre vida social e vida natural. O filme é acima de tudo uma viagem ao interior do mundo de McCandless, um jovem rico, de uma inteligência brilhante e inquieta, que larga tudo e se refugia no coração gelado do Alaska e acaba morrendo de inanição. Tal saga tinha por finalidade o delineamento de experiências que deixassem de lado a ganância, a desistabilidade familiar e todo séquito de fatores mesquinhos. McCandlesse constrói um sonho e esse sonho passa a ser a sua grande busca. É necessário viver para aquilo o qual o coração faz pulsar.
Foto do próprio McCandless

O jovem McCandless poderia ser o que ele quisesse. Todavia, a sua grande escolha foi a liberdade. Fica no muito claro na obra, que as suas andanças, aventuras e perquirições buscavam tornar a liberdade um elemento vital. No final da obra, Mc Candless entende que tal sentimento somente tem razão de ser quando proporciona felicidade. "A felicidade só é real quando é compartilhada" - afirmação do próprio McCandless. Felicidade só pode ser felicidade quando vivida ao lado do outro. Ou seja, o outro é a porta dimensional capaz de me levar a experimentar a felicidade como projeto existencial.

O personagem encenado pelo talentoso Emile Hirsch é alguém atraente. Pródigo de ideais. É uma personalidade rebelde. Uma espécie de Thoreau moderno, inadaptado às intenções pequenas e condicionantes do capitalismo. Ele se insurge contra as premissas dos pais, que querem fazer dele um homem médio - desses que andam no fluxo da história; fazem o que todos fazem e acabam fenecendo como reles mortais. McCandless anda na contramão dessa lógica da domesticação. Busca viver no seio da natureza. Lendo Thoreau, os textos morais de Tolstói e, acima de tudo, Jack London (outro viajante inquieto), McCandless acende uma flama em seu coração. Experimenta por mais de 4 meses essa solidão que o remete à liberdade tão sonhada.

Emile Hirsch, no papel de Christopher McCandless
Não contava com o fato de que a lógica da natureza é a imparcialidade. Que ela não está condicionada aos romances. Como disse certa vez o próprio Henry David Thoreau: "A natureza é lenta porém segura; ela é a tartaruga que ganha a corrida pela perseverança". Essa mesma natureza que o personagem ama, é inamistosa. McCandless acabou morrendo de inanição. Ao tentar sair do seu carro-abrigo e procurar auxílio, é supreendido pelo degelo e engrossamento das águas de um rio. Não pode atravessar e aquilo resultou em cerceamento. Após ter voltado, ficou sem comida e teve que se alimentar de ervas. Infelizmente ingeriu uma planta que possuía propriedades venenosas e aquilo resultou em algo que o debilitou até a morte.

O filme nos lança uma importante reflexão intimista. Tudo é feito para nos silenciar. A música gravosa de Eddie Vedder. As cenas de uma América pouco conhecida. Uma América sem o establishment que a constitui. Uma América formada por longas estradas, canyons, rios, hippies e toda uma gama de atores que buscam um outro estilo de vida. A busca existencial e espiritual de MacCandless é corroborada pela frase: "Ao invés de amor, de dinheiro, de fama, de justiça, dê-me a verdade”. O jovem "Supertramp" (algo como "super andarilho") era um inquiridor. Todo aquele que se empenhe em achar o que é a verdade, necessariamente, chegará ao limiar dos portões da liberdade. Foi para isso que McCandless viveu.

Uma das faixas que serviram de trilha sonora para o filme. No vídeo, algumas imagens sobre McCandless.

 

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