quinta-feira, maio 02, 2013

Filme "Criação" - sobre a vida de Charles Darwin

Assisti, ontem à noite, ao filme Criação (2009), do diretor Jon Amiel, que trata sobre a vida de um dos homens mais comentados e polêmicos da história, Charles Darwin. A obra é boa sob vários aspectos. Todavia, percebemos outros elementos de cunho ficcional que foram inseridos para aumentar o drama sobre a vida do inglês. 

O filme possui uma fotografia belíssima. Passa-se na Inglaterra vitoriana, época em que a religião e o moralismo, baeado nas ideias divinas, possuíam uma força disciplinadora. Assim, a obra busca mostrar dramas físicos, espirituais e mentais enfrentados pelo inglês antes da divulgação de A origem das espécies, de 1859. O fato é que Darwin relutava consigo mesmo antes divulgar uma teoria que poria em xeque o ideal criacionista de que todas as coisas emanam da vontade de um criador bondoso e benovolente.

Darwin passa entender, por meio de suas observações, que existe um gládio na natureza. Sua grande viagem pelo mundo realizado no HMS Beagle (1831-1836), fê-lo compreender empiricamente que, na natureza, os romances são dispensáveis. O que prevalece é a força e a imparcialidade. O mais forte sobrevive e transmite aos seus descendentes as suas características. Para que uma espécie sobreviva é necessário, muitas vezes, que prevaleça sobre a mais fraca. Isso fica claro numa das cenas do filme, quando Annie diz para seus irmãos ao perceberem uma raposa matar um coelho indefeso: "A raposa tem que comer o coelho, se não os bebês da raposa morrerão. É o equlíbrio das coisas". 

Ou seja, Darwin não é a-religioso. Deve se entender que a existência filósofica do conceito de moral, amor ou compaixão é um elemento fincado no mundo humano. Na natureza não existem bondades. Apenas a luta de cada espécie para gerar descendentes férteis e sobreviver. A verdadeira luta de todas as lutas na natureza, é a luta pela vida. A grande questão em Darwin é que ele tirou a cabeça dos homens do mundo das ideias; das explicações religiosas e não sustentadas por uma base empírica, portanto, científica, e as colocou no mundo natural. É como se ele dissesse: "Escutem! Todas as explicações para compreendermos todas as coisas estão aqui". Os argumentos da religião atuam nas lacunas. Se não se pode entender ou explicar com argumentos plausíveis, fala-se: "Não podemos especular ou contradizer as escrituras ou as coisas de Deus".

No filme, o amigo de Darwin, Thomas Huxley, que foi um dos maiores defensores da teoria no século XIX, diz: "Você matou Deus". Penso que Darwin não matou Deus. Talvez, sim, do ponto de vista da logicidade e da desnecessidade de colocar Deus no cerne da teoria. Afinal, não há lugar para um criador em sua teoria. Deus pode continuar a existir na cabeça daqueles que acreditam em sua existência, sem que interfira nas coisas da ciência. Darwin lutava contra as consequências da divulgação de suas ideias, pois há muito que ele deixara de crer em um criador. Haveria uma desagregação generalizada, no seu entender. Como as pessoas, as sociedades ficariam? Pensava em sua mulher.

O filme é bom. Todavia, exarcerba no dramalhão envolvendo Darwin e a morte de sua filha, Annie. Em alguns momentos dá a entender que o vetor principal que atrapalhava Darwin para não pulblicação do livro foi a morte da filha. Ela parecia exercer, no filme, um fascínio fantasmático. Segundo seus biógrafos, a morte da filha em 1851, encorpou a sua não crença na religião. De qualquer forma, é uma excelente obra para conhecermos um pouco mais sobre a vida de um dos maiores cientistas de todos os tempos.

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