segunda-feira, janeiro 25, 2016

Crônica de uma viagem - parte 1

Escreverei dois ou três textos sobre a minha viagem de férias, realizada entre os dias 26 de dezembro e 21 de janeiro por cinco estados nordestinos. A princípio a coisa se parece com aquelas tarefas escolares de início de ano: "Como foram as minhas férias!" Tentando fugir dessa característica, a minha intenção é manter vivo aquilo que experimentei. Ao escrever imortalizamos aquilo que é mortal; damos carne e substância ao tempo que já não existe e que mora dentro de nós como memória. Meu corpo é um museu habitado por muitas memórias. Há inúmeros quadros espalhados por galerias imensas no meu ser, povoadas por paisagens singulares. 

Pois, no dia 26 de dezembro, eu e minha esposa partimos para Lençóis, na Bahia. Saímos às cinco horas da madrugada. Viajamos mil e cem quilômetros. Chegamos à cidade que preserva as marcas do garimpo de pedras preciosas por volta da sete da noite. Tudo já estava escuro. Foi uma viagem tranquila. Saímos do DF, entramos no Goiás; saímos do Goiás e  "rumamos" pela imensa Bahia. 

Estabelecemo-nos na cidade de Lençóis durante três dias. Visitamos alguns pontos importantes do lugar. Um dos referenciais da cidade é o turismo natural. O Parque Nacional da Chapada da Diamantina, criado em 1985, possui uma área de quase 153 mil hectares, situado nos municípios de Lençóis, Mucugê, Palmeiras, Iramaia, Itaetê, Andaraí, Ibicoara, entre outros. A região vive basicamente do turismo. Enquanto estava por lá, notei a quantidade de estrangeiros - canadenses, alemães, franceses, ingleses, estadunidenses e gente de muitas regiões do Brasil. 

Visitamos a Gruta da Pratinha, situada em uma fazenda particular. É preciso pagar R$ 10,00 para entrar. O lugar dispõe de banheiros. A comida vendida no quilo é gostosa. Possui um sabor bem caseiro e, levemente, conserva as nuances do tempero nordestino. 

Visitei ainda o Morro do Pai Inácio, um dos poucos morros da Chapada no qual se pode subir. A escalada é tranquila. É preciso ter força física, destreza e fôlego. Todavia, com tranquilidade e perseverança se consegue chegar ao alto. O prêmio é uma visão privilegiada. Avistam-se os morros da região; os vales próximos; e é possível tirar fotos que são verdadeiros cartões postais. 

Dois outros locais interessantes que visitei foram o Ribeirão do Meio e a Cachoeira do Mosquito. Aquele pode ser visitado a pé, já que se encontra próximo à cidade. Esta fica distante. É preciso ir de carro. Segue-se pela BR 242. Em seguida, percorre-se um trecho de vinte quilômetros numa estrada de terra. Fato inusitado se deu quando eu, minha esposa, meu irmão, sua esposa e algumas amizades que fizemos na cidade, debatíamos sobre como chegaríamos ao Ribeirão. Um senhor da cidade ficou observando. Era negro. Simpático. Circunspecto. De meia idade. E depois pude observar que apresentava apenas dois dentes em seu sorriso. Aproximou-se e proferiu com singeleza:

 - Com licença... Eu estava ouvindo vocês falando sobre o caminho para o Ribeirão... - e, e logo em seguida, debulhou o itinerário do Ribeirão numa fala grávida pelo sotaque mavioso da Bahia.

Perguntei para alongar a conversa e me deliciar com seu dialeto:

- Lá é legal? 

E aí escutei a exclamativa e musical afirmação:

- Olhe! Lá é massa!!! - e logo em seguida saiu pedindo desculpas pela intromissão com seu passo pachorrento, com as mãos para trás. 

Aquela expressão "Lá é massa!" abriu um imenso clarão de alegria dentro de mim, que nessas linhas chochas e inexpressivas não consigo recriar a cadência de sua voz; a expansão ou o intervalo de sua entonação. Todos do grupo ficamos rindo. 

Outra experiência gratificante na cidade foi ter comido no único restaurante mexicano da cidade - o Burritos y Taquitos. O dono do restaurante morou por algum tempo no México e trouxe de lá a cabala dos temperos da terra dos maias. Para comer lá é necessário agendar com alguma antecedência, porquanto é bastante visitado. O espaço possui fragrâncias exóticas, resultado do incenso que busca recriar os feitiços da rica e complexa cultura mexicana. Gostei tanto da experiência, que eu e minha esposa nos vimos obrigados a comer mais uma vez naquele lugar ao voltarmos para casa. 

De Lençóis, no dia 29 de dezembro, rumamos para Aracaju, que fica a 650 quilômetros da cidade baiana. Dirigi de Lençóis a Feira de Santana; e a minha encantável esposa conduziu-nos até Aracaju, a capital sergipana. 

Outro dia, continuarei a contar os fatos ocorridos em Sergipe e na Paraíba.  

Abaixo, algumas fotos tiradas em meu celular. 

Gruta da Pratinha

Vista privilegiada do Vale. De cima do Morro do Pai Inácio

Minha linda senhora!

A fera!

Entrada da Cachoeira do Mosquito

Cachoeira do Mosquito


Uma das ruas de Lençóis



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