domingo, outubro 15, 2017

15 de outubro. Dia do professor. O que há para comemorar?

Ser responsável no desenvolvimento de uma prática qualquer implica, de um lado, o cumprimento de deveres, de outro, o exercício de direitos. Paulo Freire

15 de outubro. Dia do professor. Sou professor. Mas não tenho muitos motivos para risos largos. Em um país como o Brasil, ser professor é não ter motivos para comemorar, ainda mais no momento em que vivemos, quando do ponto de vista político, enfrentamos uma situação caótica, preocupante, de disputa hegemônica clara. Fico a observar as congratulações vazias, destituídas de reflexões mais fundas. Afinal, quais seriam os motivos para a comemoração?

Antes de empinar o peito e esboçar uma jactância anêmica, seria importante pensarmos o quanto o professor é valorizado, primeiramente, pelo Estado, pelos mentores das políticas públicas. Atualmente, sobre o professor recai a culpa de ser doutrinador, de "fazedor de cabeças". Se isso fosse verdade, não estaríamos vivendo um dos momentos mais grotescos de nossa história, em que a profissão tem sido criminalizada pelo Escola sem Partido, uma das construções mais patéticas e incoerentes possíveis do ponto de vista epistemológico. Quando o professor doutrina, faz a cabeça das pessoas, se ainda há pessoas que votam em Jair Messias Bolsonaro e pedem a volta da Ditadura? 

Afinal, o que há para comemorar? O Governo Federal congelou os investimentos em educação por vinte anos para inflar os bolsos dos rentistas. Ou seja, a longo prazo, pensa-se no setor financeiro mais do que em um projeto de educação para o Brasil, capaz de colocar o país na esteira do desenvolvimento e construir uma projeto de nação. 

O que há para comemorar, quando há um desmonte da universidade pública? A pesquisa tem sido precarizada. Os investimentos só encolhem, impedindo que o país protaganize a ciência, em projetos capazes de fazer do país uma potência nessa área. Novamente, entende-se que o mercado redimirá os problemas do país. A educação é só um detalhe. Novamente, o professor é só um detalhe, uma profissão proletarizada, secundarizada, sem investimentos, sem formação adequada, continuada.

O que há para comemorar, quando poucos são os Estados e municípios que conseguem pagar o piso salarial nacional para os professores? Importante dizer que o piso é uma conquista histórica. 

O que há para comemorar, quando o PIB é disputado pelo rentismo e pelos setores  que se beneficiam imoralmente com os juros da dívida pública, relegando à educação as migalhas que sobram do fundo público? 

O que há para comemorar? Educação é luta. É uma campo em disputa. É uma atuação política fundamental. Ela gesta o cidadão que se con-forma ou que se in-con-forma. Não é campo neutro. Se há descaso, isso já enuncia um compromisso político daqueles que a pensam. Então, olhando por este ponto de vista, não há motivos para júbilos ou idealismos. 

Que há para comemorar?

A alienação?
A classe dividida?
O trabalho excedente não remunerado?
A ausência de final semana, porque este só existe para a preparação de aula?
Da falta de ócio, de leitura?
A falta de incentivos, de reconhecimento?
De estímulos do Estado e da sociedade?
...dos alunos?
A mão de obra barata?
A desvalorização grassante..?
A síndrome de burn out?
O trabalhar em três escolas para se conseguir pagar as contas?
A ignorância política?
A incapacidade de pensar histórica e dialeticamente a sua condição?

Afinal, tantas são os motivos para a seriedade, para não pensar messianicamente a profissão e poucos são os motivos para o júbilo, para o contentamento que a ocasião exige. 




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